domingo, 24 de fevereiro de 2008

INFÂNCIA

INFÂNCIA
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)


MEU PAI montava a cavalo, ia para o campo
Minha mãe ficava sentada cosendo
Meu irmão pequeno dormia
Eu sozinho, menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala _ e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
Olhando para mim:
— Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé



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MAS ELES PREFEREM OS VIDEO GAMES



Um comentário:

Porque eu sei e pronto! disse...

Ai-ai, tempo bom... Infância... sinto ainda hoje, quando chove, o cheiro da terra. Da terra lá do Bugre, "interior" de Campo Largo. A gente correndo no terreiro, chupando uva direto do parreral, debulhando milho, descascando as cebolas ao lado do tio Juca. E láááá na janela, a tia Madalena chamando pro café... Café preto com leite ninho, pão de casa esquentado na chapa do fogão a lenha, com um pouquinho de banha. E água? Água do olho, ali na entrada perto do banhadinho com as pontes de madeira feitas com cuidado pelo tio Bazo. E assim se ia um sábado ou um domingo... Mas hoje? Hoje eles preferem o shopping... Êêêê saudade da porra!!!